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quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A DIETA DO ÉDEN - ALIMENTAÇÃO VIVA E CRUDIVORISMO — PORQUE EU NÃO TENHO FOGÃO HÁ 14 ANOS

 CIÊNCIA DO CRUDIVORISMO — PORQUE EU NÃO TENHO FOGÃO E NÃO QUEIMO MEUS ALIMENTOS HÁ 14 ANOS   (Nutricionista Eduardo Corassa)


O crudivorismo é o ato de se alimentar com alimentos crus. Crudivorista é uma pessoa que come uma dieta exclusivamente crua. O homem é o único organismo vivo que altera quimicamente seu alimento através do cozimento. Existem quase 700.000 mil espécies animais no planeta e de todas elas, somente o homem não vive de alimentos orgânicos e não cozidos.


Dados antropológicos indicam que a raça humana habita a terra em média há 8 milhões de anos. Dados de antropologia, paleoantropologia e geologia, indicam que seres humanos provavelmente desenvolveram o uso do fogo há aproximadamente 1 milhão de anos, entretanto, não se sabe ao certo quando seres humanos começaram a cozinhar. Já que não tínhamos internet, modismos antigamente não pegava tão rápido, então não sabemos quando a prática do cozimento foi disseminada, mas acreditamos que foi durante a última era glacial, que ocorreu há 100 mil anos, que levou ao congelamento do globo, a falta de nossos alimentos naturais, frescos, diretos da árvore (Frutas, vegetais e oleaginosas), impulsionando seres humanos a acharem soluções para sobreviverem. 


Ao descobrir que o fogo nos permitia a alterar alimentos insossos e indigestos crus, como grãos, leguminosas, tubérculos, carne, ovos, etc. seres humanos por questões de sobrevivência, começaram a cozinhar. Com certeza, não foi por gosto, já que sem temperos, sem sal, sem panelas para cozinhar devidamente o alimento (panelas foram inventadas há menos de 10 mil anos), sem talheres, sem pratos, sem tigelas para misturar os alimentos e torná-los no que chamamos na atualidade de “refeição equilibrada e nutritiva”, não teríamos tanto prazer em comer arroz, feijão, batata, vaca, menstruação de galinha não fertilizada e secreções mamárias de ruminantes. 


 No dia 15 de maio de 1979, o prestigiado Jornal New York Times publicou que o Dr. Norman Walker, antropólogo da Universidade de John Hopkins, através de um microscópio de elétrons, descobriu diferenças impressionantes ao comparar padrões de desgastes dentários de duas espécies de humanos da pré-história, Homo Erectus e Australopiteco. Os desgastes dentários do Homo Erectus eram de um animal onívoro, que comia uma dieta variada de raízes, nozes, frutas, folhas verdes e carne. Enquanto os de seus antecessores, o Austrolopiteco, era de um frugívoro, comendo uma dieta exclusiva de frutas, vegetais, sementes e nozes. Parafraseando Galeno, médico e filósofo romano da antiguidade, um dos pais da medicina:  “O primata é como o homem em víscera, músculos, artérias, veias, nervos e ossos.”  




Seres humanos, como são constituídos geneticamente, extremamente similares aos primatas antropoides, são feitos primariamente para sentir o gosto doce, na ponta da sua língua. Uma indicação biológica da nossa predisposição ao consumo de frutas e vegetais, os únicos alimentos doces que existem na natureza. Até o ser humano aprender a refinar e industrializar o açúcar da cana e da beterraba, o único açúcar na natureza por toda a evolução do planeta terra foram apenas as frutas maduras e vegetais suculentos. 



Portanto, ao analisarmos diferentes ciências, percebemos que o ato de cozinhar os alimentos é algo extremamente recente em termos de evolução humana, algo feito por menos de 0,00000001% do nosso tempo de existência. E por mais que começamos a cozinhar provavelmente há 100 mil anos, com tanta fruta e vegetal cru e fácil de ser consumido, saboroso e prático, duvido que seres humanos cavariam à terra até achar, batatas ou inhames feios, duros e cheios de terra, colheriam minúsculos grãos que demoram muito tempo para serem colhidos e que só pássaros os consomem na natureza, colheriam feijões secos e insossos, aprisionariam e abateriam as vacas, limpariam suas entranhas, ossos e sangue até chegar a sua “bela picanha”, montariam um fogaréu, desenvolveriam uma panela (pois antes da panela, só podiam queimar as coisas diretamente no fogo como em um “churrasco primitivo”, e passariam algumas horas para montar tal refeição “saudável e cozida” e  a consumiriam sem sal e temperos, já que o uso do sal é algo que tem menos de 3 mil anos aproximadamente, e todo marinheiro sabe que ao naufragar, não deve beber água do mar, pois pode até mesmo o matar de desidratação. 


Portanto, obviamente, posso questionar a perda de nutrientes que todos nós já ouvimos falar que ocorre com o cozimento. Posso questionar a formação dos PRMs, os subprodutos da reação de Maillard , aproximadamente 420 substâncias tóxicas que são formadas durante o cozimento, as quais mesmo pouco estudadas ainda, muitas são consideradas, cancerígenas, mutagênicas, genotóxicas, teratogênicas, clastogênicas, pró-inflamatórias, diabetogênicas, pró- ateroscléroticas, neurodegenerativas e responsáveis por atrofia cerebral (no caso dos AGEs – subprodutos da glicação avançada), imunotóxicas, reprotóxicas, oncogênicas, entre outros problemas. 


Posso questionar que permite seres humanos comerem alimentos não adaptados a nossa espécie, como grãos, leguminosas, tubérculos, produtos de origem animal entre outros. Porque devemos pensar, se a ciência prova que evoluímos por milhões de anos consumindo uma dieta frugívora (primariamente frutas, vegetais e oleaginosas como nossos parentes mais próximos, os primatas antropoides) e já que não conseguimos comer cru e com gosto, arroz, quinoa, feijão, grão-de-bico, inhame, aipim, pedaços de animais, ovos e secreções mamárias, será mesmo que nossa anatomia, fisiologia e bioquímica é adaptada a tais alimentos e nosso processo nutricional não será afetado pelo consumo dos mesmos? Será que não seríamos mais saudáveis consumindo uma dieta similar a qual nossos corpos evoluíram por milhões de anos? 


A óbvia predisposição do paladar humano ao doce e ao salgado (o primeiro constituinte das frutas e vegetais – açúcares e sais minerais), a predisposição ao espectro de todas as cores que nossos olhos conseguem enxergar, primatas tem capacidade visual extremamente desenvolvida, não só enxergando cores mas como profundidade, através do que chamamos de visão estereoscópica o que permite uma vida arbórea e a diferenciação de frutas verdes e maduras, assim sendo atraído pelos alimentos mais nutritivos (frutas maduras, ricas em fito nutrientes). 


A óbvia predisposição de nossas mãos e polegares opostos, que permitem a vida arbórea e a coletar frutas e vegetais que cabem perfeitamente em nossas mãos (imagine um leão tentando subir em árvores, coletar frutas e consumi-las. Ele não enxerga cores, não tem como coletar alimentos ou se pendurar em galhos e não tem a capacidade de sentir o gosto doce, muito menos a possibilidade de digerir carboidratos pela sua falta de amilase, enzima gástrica e salivar que digere amido).


  Portanto, existem milhares de questionamentos que posso fazer ao cozimento, mas, para simplificar e caber em apenas um rápido artigo, porque não comer alimentos direto da árvore, como a criação fez para ser, como fizemos por 8 milhões de anos antes do fogo e o que mantém nossos parentes mais próximos saudáveis e fortes ao longo de 40 milhões de anos de evolução, já que um chimpanzé vive primariamente de frutas e folhas (sua proteína vem em sua grande maioria da fruta), ele pode em média comer um outro macaco pequeno uma vez por mês ou até levar 3 meses sem consumir e em pequenas quantidades, dividindo para uma tribo inteira poucos macacos. E ele é o mais “onívoro” de todos os primatas, enquanto o próprio gorila de 260 quilos é praticamente vegano, tendo algum consumo raríssimo de insetos. 


Se estes animais compartilham 99% do nosso material genético e são mais saudáveis e fortes que seres humanos, porque temos tanto medo de comida crua? Se as 700 mil espécies que compartilham o planeta conosco vivem de comida crua e só o ser humano cozinha e sofre de doenças degenerativas, porque temos medo alimentos crus, achando que fruta é prejudicial a saúde? Se temos dados científicos epidemiológicos que o consumo insuficiente de frutas é a principal causa de morte no mundo e que frutas e vegetais até mesmo previnem diabetes, obesidade, câncer, doença cardiovascular, doenças respiratórias, doenças neurológicas e psiquiátricas, porque não aprender com “animais inferiores” sobre como nos nutrir melhor. Pois o animal superior, aka homo sapiens “homem sábio” não tem sido tão sábio assim, achando que podem queimar e industrializar os alimentos perfeitos fornecidos pela criação, alimentos que brotam das árvores, coloridos, doces e suculentos, e melhorá-los. Chega a ser piada chamar os primatas antropóides de “onívoros”, quando as pesquisas médicas científicas indicam que eles como nós somos frugívoros não especializados. Quando muitos o chamam de onívoros e comparam seres humanos que comem proteína animal, todo dia, em toda refeição, queimada no fogo, com sal, temperos e misturada com dezenas de ingredientes vegetais para saborizá-la.


Queimar os alimentos perfeitos que a natureza nos fornece é ao meu ver, um insulto a criação e de acordo com o Dr. Francis M Pottenger, em uma pesquisa de 100 anos atrás em gatos, causava degeneração da espécie deles com efeitos transgeracionais e epigenéticos. Agora vemos seres humanos nascendo com todo tipo de doença crônica e cada vez mais fracos e doentes. Será que não estamos nos deteriorando ao cozinhar? Será que realmente é tão difícil, comer mais bananas, caquis, figos, melancias, laranjas, alface, tomate, pepino, brócolis, couve-flor, repolho, castanha do pará, nozes, semente de girassol, pistaches, ervilhas frescas, milho fresco, etc.?


       De um nutricionista que vive há quase 14 anos de comida crua, sugiro fortemente, considerar ler mais sobre a ciência do crudivorismo, e como sua saúde pode melhorar drasticamente, como a minha melhorou. Há 14 anos, era diabético, obeso, doente, imunodeficiente entre inúmeros outros problemas. Eu decidi que não queria mais sobreviver mas sim prosperar e fiz a melhor mudança da minha vida. Joguei meu fogão fora, e aprendi a Cruzinhar. 





Referências bibliográficas


A Dieta do Éden - Eduardo Corassa - Saúde Frugal 


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