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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Leite de vaca x leite materno (aleitamento)


Mais um trecho do meu livro "O veganismo para mães, pais e bebês".



Secreções mamárias de um outro tipo de mamífero não é natural para humanos

 


“Um importante fato a se lembrar e que todas dietas naturais, incluindo dietas veganas sem nem um vestígio de laticínios, contém quantidades de cálcio acima do limite para alcançar suas necessidades dietéticas. Na verdade, deficiência de cálcio causada por insuficiência dietética não é conhecido de ocorrer em humanos”. Dr. John Mcdougal, medico vegano, há mais de 30 anos proponente de uma dieta vegana saudável, mais de 40 anos de prática médica.



É óbvio que até um passado extremamente recente em termos de vida humana na terra, todas as mães tinham que ser extremamente saudáveis e eficientes, para que seus filhos não morressem de fome ou de deficiência, já que, até o período neolítico, seres humanos não haviam domesticado os animais leiteiros (vaca, cabra, camelo, burro etc.). Agora, roubamos o leite deles em função de suprir a incapacidade das mães amamentarem seus filhos até a idade devida, como toda espécie de mamífero o faz, menos o homem. E isto se dá primariamente a nutrição indevida, devido a comida cozida, processada, refinada e industrializada, que, completamente desvitalizada, não fornece as mães os nutrientes essenciais e o bom funcionamento fisiológico que as permitem produzir seu leite. Se mães primitivas, não fossem muito mais aptas de amamentar mais do que apenas uns meses ou um ano, nossa raça teria sucumbido, pois sem apetrechos para cozinhar e amassar os alimentos, os bebês não teriam o que comer.

Não consigo imaginar, mulheres primitivas, relegando sua obrigação maternal a vacas e cabras, por elas serem incapazes de fornecer a quantidade de leite devido, durante o tempo devido. E obviamente antes do fogo e ferramentas, como crianças precisam de dietas ricas em gordura para crescerem, sem o leite materno, não teríamos como naturalmente fornecer a quantidade alta de gordura que a criança necessita durante os primeiros 7 a 8 anos de vida, já que a primeira dentição não facilitaria o consumo de oleaginosas e menos ainda o de carne crua, caso a criança realmente conseguisse comer com gosto ela crua e sem temperos, como ocorreria na natureza.

Como as mães atuais não produzem leite o suficiente, elas recorrem ao leite de outros animais. Ao não possuírem um nutriente, ou possuírem quantidades inadequadas, obviamente, sua criança, em fase de crescimento é quem mais sofre com isso, porque terá materiais pobres e fracos para construir sua estrutura. Como diria o Dr. Shelton, “Uma mãe não consegue produzir seu leite comendo farinhas, açúcares refinados, cerveja, cachorros quentes, hambúrgueres, tortas, cafés etc.”.

Levando em consideração que o ser humano é o único mamífero que se alimenta com leite de outras espécies de mamíferos e continua a “mamar” mesmo na fase adulta, devemos questionar, não há diferenças entre a composição química do leite destes outros grupos de mamíferos em comparação ao nosso? Não temos particularidades bioquímicas que só o leite de uma mãe humana consegue fornecer?

Comparando o leite de vaca que é o mais amplamente consumido por nossa raça, com o leite humano temos diversas diferenças que causam uma amplitude de problemas.



·         Proteína em excesso:

·         Desequilíbrio de vitaminas e minerais:

·         Balanço ácido/alcalino:

·         Desequilíbrio em fatores imunológicos

·         Àcidos graxos essenciais



E sabemos que proteína em excesso prejudica os rins, ainda mais de uma criança, já que ainda não tem seu sistema formado, sendo mais frágeis. O leite de vaca é acidificante, enquanto o materno alcalinizante. Nosso sangue precisa se manter levemente alcalino. O leite de certas espécies como o gamba ou o ornitorrinco é formado por oligossacarídeos ao invés de açúcares simples. Sabemos que não sentimos o gosto do amido (arroz, feijão e batata) em sua forma crua e não temperada, mas sentimos o gosto de açúcares simples, por isso o da nossa é composto de galactose 247.

Leite de vaca contém quantidades insuficientes de diversos nutrientes como ácido linoleico (Ômega 3), zinco, ferro e vitaminas C e E. Contém em excesso alguns como sódio, cálcio e proteína. E diversos destes nutrientes não só são essenciais (precisam ser consumidos), e a falta ou excesso dos mesmos impede o corpo de se manter íntegro e saudável. O que nos faz questionar o que ocorre ao organismo humano ao ser formado pelo leite de outra espécie, com conteúdo nutricional inadequado para a nossa.

As secreções gástricas de bebês humanos são adaptadas para a digestão do leite humano. Não sendo devidamente digerido, sofremos de intolerância à lactose, alergia por proteínas não digeridas etc. O leite humano, assim como o leite da vaca, é rico em fatores imunológicos. O humano contém específicos para o bebê e o da vaca para o bezerro 248, 249.

Leite de vaca, atualmente, é repleto de hormônios sintéticos, antibióticos, POPs, pus e sangue 1103103139442. Primeiramente, vacas são injetadas com o RBGH, (Hormônio de crescimento recombinante bovino) um hormônio de crescimento para incentivar a produção de leite, inúmeras vezes mais que o natural. Além disso, o leite é contaminado por PCBs e dioxinas, sendo ¼ a metade da contaminação da população nos EUA vindo dele. Cólicas em bebês são correlacionadas as proteínas do leite de vaca, até mesmo quando ingerido pela mãe, sendo passado pelo leite dela a criança 268, 269, 270.

Outro problema é que não é possível mais também se conseguir leite de vaca fresco e cru. Hoje, todo o leite consumindo em grandes e até mesmo pequenas cidades é pasteurizado. Com o processo da pasteurização, a indústria esteriliza o alimento, conseguindo com isso um maior tempo de vida nas prateleiras. Mas quanto mais expomos o alimento a altas temperaturas, mais toxinas ali são formadas, muitos nutrientes são perdidos e outros se tornam mais difíceis de serem digeridos e assimilados. Uma das péssimas perdas específicas durante a pasteurização é o ácido fólico, tão frisado na atualidade por pediatras, por sua interação com a vitamina b12 e por causar um grave tipo de anemia 0987743434990, 0987743434991.

Um experimento publicado no “British Medical Journal”, intitulado “O efeito do tratamento de calor no valor nutritivo do leite para o bezerro; o efeito do tratamento e pasteurização com alta temperatura” demonstrou que os bezerros que são alimentados com o leite materno pasteurizado, morriam de nove entre dez casos. Outros provaram que bezerros alimentados com leite pasteurizado sofrem problemas de saúde e tendem a não sobreviver devido à má nutrição 271.

Leite nada mais é que um sistema de sinalização e materiais crus, estabelecido a mais de 160 milhões de anos no período jurássico para o crescimento neonatal. Devido a suas propriedades químicas, induz o organismo a sinalizar para ele próprio, através da secreção de hormônios, que é a hora de crescer, aumentar de tamanho, desenvolver a estrutura, assim aumentando níveis de hormônios anabólicos e complexos de proteínas correlacionados ao crescimento como GH, IGF-1, incretinas (insulina, glucagon etc.), MTORc1 250.

O conteúdo proteíco do leite de cada espécie de mamífero e correlacionado a velocidade de crescimento de sua prole. Neonatos humanos levam 180 dias a dobrar seu peso de nascimento, enquanto bezerros 40. Ratos e coelhos tem o seu conteúdo proteíco mais elevado, pois dobram do seu peso de nascimento em apenas 4 a 5 dias 251. O mais impressionante que o leite materno humano é na verdade o mais baixo dos primatas, possivelmente indicando que nossa necessidade proteíca é mais baixa que a deles, e provavelmente sugerindo uma maior porcentagem de frutas e menor de vegetais.

E não é coincidência que nosso leite é, de todas as espécies, o mais hipo-proteíco, contendo apenas 1.21 gramas de proteína a cada 100 ml e reduzindo ainda mais com o passar dos 6 primeiros meses para 1.14. Em contraste, a proteína do leite de vaca é 3.36 gramas a cada 100 ml, enquanto o do rato é 8.7 gramas a cada 100 ml e o de um coelho 10 gramas. Deixe o leite para o neonato de sua espécie. Não acredite que você foi feito para mamar durante a fase adulta, para o resto de sua vida e que você nunca deveria desmamar. E ainda por cima, a alta quantidade de leucina no leite, estimula a via metabólica mTORC1 (alvo da rapamicina), substância responsável pelo crescimento do organismo como um todo, que se encontra altamente ativa em células cancerígenas 252.

Se tratando do cálcio, uma pesquisa publicada no jornal médico científico Pediatrics, conclui que leite de vaca não melhorava a integridade óssea em crianças. Em outro estudo no American Journal of Clinical Nutrition, o consumo excessivo de cálcio ou de lácteos por adolescentes não prevenia fraturas ósseas. E que mais de 600 mg ao dia, facilmente obtidos por leite e suplementos (americanos chegam a recomendar até mais de 1200) não tem benefícios aos ossos 253, 254, 255.











Conteúdo de leucina por grama total de proteína no leite de várias espécies
Espécies
Aminoácidos totais em gramas por 100 ml de leite
Conteúdo de leucina em miligramas por grama total de aminoácidos

Humano
0.85
104

Chimpanzé
0.92
104

Gorila
1.15
102

Babuíno
1.15
105

Rhesus
1.16
111

Cavalo
1.58
93

Cabra
2.57
96

Llama
2.96
99

Vaca
3.36
99

Porco
3.50
89

Elefante
3.71
98

Ovelha
5.41
90

Gato
7.57
118

Rato
8.69
92

Range: 0.85–8.69 g/100 mL
Mean: 100 ± 8 mg/g protein



Conteúdo de leucina no leite de mamíferos e a taxa de crescimento.

Espécies
Conteúdo de proteína no leite (g/100 mL)
Conteúdo de leucina no leite (mg/100 mL)
Dias para dobrar o peso do nascimento

Rato1
8.7
799
4
Vaca1
3.4
333
40
Fórmula
Infantil (HP)2
3.2
308
?
Fórmula
infantil (LP)2
1.6
154
?
Leite materno2
1.2
104
180

Bodo C. Melnik “Excessive Leucine-mTORC1-Signalling of Cow Milk-Based Infant Formula: The Missing Link to Understand Early Childhood Obesity” Journal of Obesity Volume 2012 (2012), 197653. AS DUAS TABELAS ACIMA SÃO DESSE artigo





A própria academia americana de pediatria não recomenda para crianças abaixo de 1 ano beberem leite de vaca, pois alegam que elas não obteriam quantidades suficientes de vitamina E, ferro e ácidos graxos essenciais. E obtém em excesso proteína, sódio e potássio. E que essa proteína e gordura vindo do leite de vaca é mais difícil para a criança digerir e absorver 256. 

Em uma população com altos índices de diabetes tipo 2, as pessoas que foram alimentadas exclusivamente com leite materno tinham muito menores índices de diabetes que os que foram alimentadas com leite em pó 257. De acordo com pesquisas publicadas em jornais altamente reconhecidos como “The New England Journal of Medicine” e o “American Journal of Clinical Nutrition” a diabetes juvenil ou tipo 1 (DM 1), é fortemente ligada ao consumo do leite e seus derivados 258, 259. Já outra no “Diabetes Care”, alegou que exposição precoce ao leite de vaca aumenta em 50% a chance de desenvolver DM1 260.

Pesquisa na “Nature”, alega que leite de vaca pode enfraquecer o funcionamento do sistema imune de uma criança e levar a problemas de infecções recorrentes 261. Já uma no jornal britânico “Lancet”, sugere: “Em torno de 20% dos bebês sofrem de cólica, gás ou câimbras abdominais. As proteínas no leite de vaca são uma das principais causas destes problemas digestivos”. O leite de vaca contém proteínas alergênicas e indutoras de cólicas, e respostas imunes a proteína do leite são correlacionadas a DM1 e síndrome de morte súbita do lactente 262,263.

Outra no jornal “Pediatrics” sugere que bebês alimentados com leite de vaca após um ano de idade vivenciam 30% de aumento na perda de sangue intestinal e um significante aumento na perda de ferro em suas fezes, o que pode levar a anemia ferropriva (anemia por deficiência de ferro) 264. Tirando o fato que o leite de vaca é pobre em ferro comparado as nossas necessidades e o cálcio e a caseína do leite inibem a absorção de ferro não heme, levando a estes três fatores correlacionarem o consumo de leite de vaca com anemia ferropriva 2235677777656909.

De acordo com a Academia Americana de Pediatria (APA): “Exposição cedo na vida do bebê a proteína do leite de vaca pode ser um importante fator na iniciação do processo destrutivo das células beta (responsáveis por produzirem a insulina no pâncreas da criança) em certos indivíduos”. E logo em seguida, recomendam evitar o consumo de leite de vaca em função de prevenir DM1.

Existem evidências na literatura para sugerir a correlação do consumo de leite de vaca ao diabetes, cânceres (principalmente os sexuais) e doenças cardiovasculares. E ainda por cima sabemos que a grande maioria de adolescentes e adultos da população mundial sofre de intolerância a lactose, que na verdade é algo natural, e não realmente “sofrem”. Mais um bom motivo para fornecer leite materno em abundância a sua criança e a alimentação complementar baseada em alimentos de origem vegetal 265, 266, 267.

Tirando a questão ética de que é roubar o alimento de um bebê de outra espécie. Como você se sentiria sendo escravizada, fertilizada artificialmente a força e 9 meses depois, o seu leite fosse roubado através de tentáculos de metal e seu filho preso em uma caixa e tornado anêmico para ser abatido com apenas 3 meses de idade para se tornar vitela (baby beef)?