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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O VALOR NUTRITIVO E O GOSTO DOS ALIMENTOS



O VALOR NUTRITIVO E O GOSTO DOS ALIMENTOS

 

A busca pelo prazer é inerente ao homem. É fato que, anatômica e fisiologicamente, precisamos de açúcar, principal combustível do corpo humano. Pesquisas indicam imediatas mudanças na química cerebral após o seu consumo. Liberam-se certas substâncias similares às produzidas pelo uso do ópio, as quais geram enorme prazer. Eis uma das razões pelas quais, desde crianças, sem nenhum conhecimento de fisiologia, ficamos vidrados em alimentos doces e aprendemos que consumi-los (carboidratos simples) nos faz bem. O que não sabemos, no entanto, é que os alimentos naturais, agradáveis ao paladar humano, são também altamente nutritivos, à diferença dos alimentos industrializados encontrados nos centros urbanos.

O primeiro gosto que sentimos, logo na ponta de nossa língua, é o doce e, mais acima desse ponto, o salgado. Podemos ver aí uma incrível coincidência: nossos alimentos naturais - frutas e vegetais – são os mais ricos em açúcares e sais minerais. Não é à toa que os barões da indústria de alimentos, assistidos de profissionais de fisiologia humana por eles assalariados, adicionam enormes quantidades de açúcar ou sal refinado, isoladas ou cumulativamente, em praticamente todos os alimentos industrializados.

Mas não é só de açúcares e sais refinados que vive a indústria de alimentos. Acrescem-se a estes produtos químicos outros altamente ruinosos à saúde, como o glutamato monossódico - uma neurotoxina perniciosa que estimula o cérebro a querer mais de um determinado alimento. Daí o famoso slogan das batatinhas industrializadas: é impossível comer uma só.



Sim, há mais exemplos: inúmeras pessoas consomem molho shoyu, sem sequer imaginarem que, em sua composição, existe sal, açúcar e glutamato monossódico concentrados, sendo esse o motivo de elas apreciarem tanto das comidas banhadas nesse molho. Na verdade, elas não gostam da comida em si, mas dos seus condimentos. Devido a nossa fisiologia gustativa, é quase impossível não gostarmos de algo com um sabor tão salgado e doce e uma neurotoxina tão estimulante.

Infelizmente, a maioria dos alimentos industrializados são agradáveis ao paladar devido à concentração absurdamente elevada de tais substâncias. Por isso, elas entorpecem nosso cérebro e estimulam o nosso desejo e apreciação por tais alimentos. Não obstante, na sua forma refinada e industrializada, o açúcar, o sal e o glutamato monossódico são extremamente tóxicos ao organismo. Esses alimentos destroem e corrompem a sua integridade, enquanto enganam os circuitos de recompensa de nosso cérebro, fazendo-o acreditar que, por ser prazeroso, é algo benéfico ao organismo.

Através da industrialização, concentram-se aqueles sabores e substâncias buscados por nossa fisiologia. Assim, transformam-se inúmeros alimentos insípidos em saborosos. A natureza nunca produziu um sanduíche, diz o renomado higienista Dr. J.Tilden e, obviamente, por mais apetitosos que possamos tornar os alimentos, devemos nos questionar: será essa uma prática saudável? Quantas pessoas, na atualidade, pensam no valor nutricional de um alimento, antes de ingeri-lo ou buscam alimentos pelo seu valor nutritivo? Eles são comercializados, promovidos e consumidos por seu gosto, valor de excitação e estimulação, o que se obtém à custa da adição de açúcares, sais refinados e de outros compostos químicos, tóxicos e nocivos, que excitam e iludem o organismo, prejudicando-o.

Na natureza, todos os animais se alimentam sem nenhum conhecimento nutricional, sendo guiados apenas por seus instintos. Obtêm os alimentos para os quais foram preparadas sua fisiologia, anatomia e biologia. Por exemplo: vacas comem grama e foram naturalmente construídas para comerem grama, sendo capazes de comer e digerir a mesma, pois possuem quatro estômagos. Obviamente, uma capacidade exclusiva dos animais herbívoros. Caso os seres humanos tentassem a mesma coisa, não conseguiriam nem ao menos calorias o suficiente para manterem-se, pois possuem uma capacidade digestiva finita. Ficariam empaturrados, muito antes de comerem o suficiente. Por outro lado, não precisamos de uma aula de fisiologia ou anatomia para compreendermos que vacas seriam incapazes de coletar uma refeição de frutas, como um primata ou caçar e devorar outro animal, como um carnívoro.

Todos os animais selvagens confiam apenas em seus instintos e estão presos às suas capacidades e ferramentas de obtenção dos respectivos alimentos. Mesmo sem qualquer conhecimento científico, enquadram-se nas leis da natureza e, por isso, vivenciam saúde otimizada, não padecendo de nenhuma das doenças degenerativas a que se submete o homem civilizado. Os animais comem o que seus instintos indicam ser o certo e o que lhes agrada ao paladar, em seu estado in natura, sem processamento algum do alimento. Não precisam enganar paladar e cérebro através de temperos e condimentos.



O valor nutritivo de um alimento está altamente ligado a seu sabor e ao paladar específico da espécie que dele se alimenta. Podemos comprová-lo, quando vemos um leão salivando diante da presa após a caça. A voracidade e deleite com que devora a carne crua, ossos, cartilagens, órgãos, pé, pernas, braços e outras partes do animal por ele abatido. Seres humanos não seriam capazes de degustar tal refeição, pelo simples fato de o nosso organismo não haver sido criado para o consumo de carne, nem mesmo termos a capacidade de sentir o gosto da gordura. Vacas, por outro lado, salivam em um campo de grama, comendo-a com prazer. Seres humanos, definitivamente, não apreciariam tal sabor. Como os primatas antropoides, adoramos o gosto doce e a suculência das frutas e somos, nós e eles, praticamente os únicos animais a sensibilizarmo-nos e a reconhecermos o doce.

É na natureza que definimos a alimentação otimizada da raça humana, o que é nutritivo e, assim, apropriado para a propagação da vida dos homens. Isso se dá, unicamente através de nossos instintos, do gosto proporcionado pelo alimento silvestre. Logo, na natureza, basicamente os únicos alimentos dos quais conseguiríamos apropriar-nos com nossas faculdades físicas e consumir com prazer são, por óbvio, frutas, vegetais, sementes e nozes.

Mas, infelizmente, na atualidade, alterou-se por completo a matéria prima produzida pela natureza, de forma a enganarem-se nossos instintos. A industrialização em massa barateou de tal ordem o processamento de alimentos, tornando-o a norma ao invés da exceção. Chegou-se ao extremo de nominar esse ou aquele alimento de saudável, quando, na verdade, durante praticamente toda a vida na terra, prescindimos de tal designação. Não havia categorias alienígenas como o junk-food.

Consumir frutas e vegetais como a base de nossas calorias não é um experimento, mas a norma através da história. Já a dieta hodierna é realmente uma experiência nova para a espécie humana, um teste para a resistência do corpo humano. Refinando, cozinhando, temperando, usando químicos, sal, açúcar etc, consegue-se comer alimentos que seriam insípidos, repulsivos à ingestão. Sem esquecermos, é claro, que, com essas práticas, sobrevivem os homens, mas alienados do ideal e potencial de saúde que o corpo humano pode e deve vivenciar.

Por incrível que pareça, levar uma dieta frugal é a coisa mais fácil de praticarmos, por tratar-se de alimentos para os quais nosso organismo foi fisiologicamente adaptado a consumir. E todos aqueles que já tentaram uma dieta frugívora tornam-se seus entusiastas, afirmando amarem e preferirem seus novos hábitos alimentares. É uma falácia acreditarmos que alimentação natural é desenxabida. Quem acredita em tal mito desconhece os verdadeiros alimentos saudáveis em sua forma fresca, madura e orgânica. Obviamente, um paladar pervertido por décadas de condimentos, temperos, alimentos cozidos e industrializados, consumo de álcool, tabaco, drogas farmacêuticas etc não é, e a continuar assim jamais será, parâmetro aceitável de outras conclusões.



Apesar de pervertida a natureza atual do homem, nossas preferências continuam vivas dentro de nós. Comprovamos a assertiva pelo fato de as pessoas procurarem reproduzir a suculência das frutas e dos vegetais em todas as receitas do dia a dia. Por exemplo, comer arroz puro é um tanto quanto seco, então adicionam o caldo do feijão ou molham o arroz com o caldo da carne, ou o dos vegetais cozidos. Também mergulham biscoitos no leite, no café ou creme, tudo com bastante açúcar. Como sempre, utilizam maionese ou manteiga em um sanduíche, por ser o pão puro seco demais para nossa fisiologia. Não comem ou apreciam o gosto do macarrão cozido por si só, por causa da sua falta de suculência, daí espalham molhos de queijos derretidos ou à bolonhesa, na esperança ingênua de torná-lo sumarento, como o são os alimentos naturais. E, como não bastasse, adicionam a todos esses alimentos sal ou açúcar refinado, ou mesmo ambos.

Para uma vida longa, saudável e próspera, o ideal é consumirmos o tipo certo de açúcar, ao revés de tentar reproduzi-lo mediante artifícios despiciendos. Consumindo, diariamente, grandes quantidades de frutas e vegetais, perpetuamos a simbiose e o papel para os quais os seres humanos foram criados. Assim, ajudamos a nós mesmos, aos animais e ao futuro da humanidade, contribuindo com a diminuição do aquecimento global e a criação de um mundo mais verde, autossustentável, SAUDÁVEL e FRUGAL!

Fotos retiradas do livro Crulinária Frugal - Receitas do Paraíso.