Ele está há 6 anos sem comer alimentos cozidos
Eduardo não colocava frutas ou salada na boca. Hoje elas são as únicas bases de sua dieta radical
Eduardo Corassa tem 26 anos, mas o rosto e o corpo, dizem os
amigos, parecem os de um adolescente de 17. Nem sempre foi assim, conta
ele.
Enquanto a batata frita, a cervejinha e o vídeo
game foram seus companheiros mais fiéis, o espelho mostrava um reflexo
envelhecido.
“Sempre pareci o mais velho da turma. As pessoas
chutavam a minha idade com palpites que íam de 30 anos para cima. Então,
mudei radicalmente a dieta. E, assim, acho que rejuvenesci uns 10
anos.”
A reviravolta na alimentação se deu há seis anos.
Até chegar à casa dos 20, Corassa só respondia com caretas diante de
qualquer oferta de fruta ou verdura.
“A única coisa que comia deste tipo era banana, desde que muito amassada e misturada com açúcar e mel”, lembra.
“Era movido a fast-food, cigarros e noites em
claro. Minha profissão também contribuía para isso (ele era jogador de
videogame profissional). Um dia, acordei sem ânimo e me dei conta: no
último ano tinha ficado doente umas 20 vezes.”
O “clique” sobre a saúde frágil e a precoce
aparência balzaquiana foi simultâneo ao início das pesquisas de Eduardo
Corassa na internet. O objetivo era investigar se a dieta
era responsável pelas duas características que tanto o incomodavam. Um
dos sites o levou direto para o crudivorismo, um estilo de vida em que o
cardápio é composto unicamente por alimentos crus. Nada de pães,
assados, fritos, cozidos ou produtos de origem animal.
No intervalo de 24 horas, ele deixou o padrão
junk-food e migrou para o modo “natureba”. Eduardo abandonou a comida
frita e entrou de cabeça na alimentação crua. Foi estudar da University
of Natural Health (UNH) nos Estados Unidos, estagiou com os principais
nomes e defensores da dieta crudívara.
O tempo passou, ele terminou a faculdade de Letras (traduziu textos sobre veganismo crudívaro) e agora está no último ano do curso de Nutrição. Na próxima semana, lança um livro de receitas, o Crulinária.
Corassa – que nunca tinha colocado os pés na cozinha – encontrou maneiras de diversificar os ingredientes crus e hoje ensina até a fazer sorvete crudívaro.
Discórdia
Atualmente, Eduardo Corassa é consultor brasileiro no movimento conhecido como Raw Food (Comida Crua), que já virou segredo de boa forma de algumas musas, como revelou recentemente a atriz Guilhermina Guingle. O estilo de dieta, porém, não tem aceitação unânime entre os especialistas.
“Uma alimentação crua é pouco aceita a longo prazo e, consequentemente, tem mais risco de causar carências nutricionais”, pondera Virgínia Nascimento, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).
Neuza Brunoro, nutricionista, PhD em Ciência e Tecnologia de Alimentos e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, acrescenta: “o cozimento serve para facilitar a digestão e a absorção de proteínas e de nutrientes de alimentos fundamentais, como batata, inhame, feijão, soja e lentinha”, diz Neuza.
“O ovo sem ser cozido não oferece todas as vitaminas do complexo B. As carnes ficam perigosas – com mais toxinas – assim como o leite”.
Isso não quer dizer, no entanto, que os crus são condenados. Ao contrário, eles têm feito muita falta no prato do brasileiro. “Legumes e verduras têm mais perdas de vitaminas e minerais quando cozidas em temperaturas superiores aos 48 graus”, diz Virgínia.
A vitamina C, explica Neuza, é perdida no calor, por isso um suco de laranja, se não consumido imediatamente, “perde os benefícios só de ficar em temperatura ambiente.”
O entusiasta dos crus, Eduardo Corassa, cita a segunda parte dos argumentos das nutricionistas para defender o seu modo de vida e coloca, no encalço da defesa, muitos outros pontos, como “proteção de doenças, defesa do ambiente, aumento da disposição” e por aí vai. E rebate os pontos contrários com citações de inúmeras evidências científicas e até histórias da mitologia que colecionou nestes seis anos de crudivorismo – todos na ponta da língua e repetidos quase sem vírgulas ou respiração.
Apesar disso, aceita o meio-termo e sabe que o ponto “intermediário” – entre o cru e cozido – já traz inúmeros benefícios. Como exemplo, cita o pai e a mãe que não são crudívoros mas mudaram o padrão alimentar por causa dele.
“Emagreci a família toda. Minha mãe emagreceu 24 quilos e virou vegetariana ao seguir meu exemplo. Meu pai não abandona a carne de jeito nenhum, não consegue viver só de crus, mas ao colocar mais frutas e verduras no prato, por minha causa, também eliminou 20 quilos e melhorou da pressão alta e do diabetes”, diz Eduardo. Com cara de menino, ele se prepara para viver até “os 100 anos”. Só comendo crus.
http://saude.ig.com.br/alimentacao-bemestar/2012-06-07/ele-esta-ha-6-anos-sem-comer-alimentos-cozidos.html