O
VALOR NUTRITIVO E O GOSTO DOS ALIMENTOS
A busca pelo prazer é
inerente ao homem. É fato que, anatômica e fisiologicamente, precisamos de
açúcar, principal combustível do corpo humano. Pesquisas indicam imediatas
mudanças na química cerebral após o seu consumo. Liberam-se certas substâncias
similares às produzidas pelo uso do ópio, as quais geram enorme prazer. Eis uma
das razões pelas quais, desde crianças, sem nenhum conhecimento de fisiologia,
ficamos vidrados em alimentos doces e aprendemos que consumi-los (carboidratos
simples) nos faz bem. O que não sabemos, no entanto, é que os alimentos
naturais, agradáveis ao paladar humano, são também altamente nutritivos, à
diferença dos alimentos industrializados encontrados nos centros urbanos.
O primeiro gosto que
sentimos, logo na ponta de nossa língua, é o doce e, mais acima desse ponto, o
salgado. Podemos ver aí uma incrível coincidência:
nossos alimentos naturais - frutas e vegetais – são os mais ricos em açúcares e
sais minerais. Não é à toa que os barões da indústria de alimentos, assistidos
de profissionais de fisiologia humana por eles assalariados, adicionam enormes
quantidades de açúcar ou sal refinado, isoladas ou cumulativamente, em
praticamente todos os alimentos industrializados.
Mas não é só de açúcares e
sais refinados que vive a indústria de alimentos. Acrescem-se a estes produtos
químicos outros altamente ruinosos à saúde, como o glutamato monossódico - uma
neurotoxina perniciosa que estimula o cérebro a querer mais de um determinado
alimento. Daí o famoso slogan das batatinhas industrializadas: é
impossível comer uma só.
Sim, há mais exemplos:
inúmeras pessoas consomem molho shoyu, sem sequer imaginarem que, em sua
composição, existe sal, açúcar e glutamato monossódico concentrados, sendo esse
o motivo de elas apreciarem tanto das comidas banhadas nesse molho. Na verdade,
elas não gostam da comida em si, mas dos seus condimentos. Devido a nossa
fisiologia gustativa, é quase impossível não gostarmos de algo com um sabor tão
salgado e doce e uma neurotoxina tão estimulante.
Infelizmente, a maioria dos
alimentos industrializados são agradáveis ao paladar devido à concentração
absurdamente elevada de tais substâncias. Por isso, elas entorpecem nosso
cérebro e estimulam o nosso desejo e apreciação por tais alimentos. Não
obstante, na sua forma refinada e industrializada, o açúcar, o sal e o
glutamato monossódico são extremamente tóxicos ao organismo. Esses alimentos destroem e corrompem a sua integridade,
enquanto enganam os circuitos de recompensa de nosso cérebro, fazendo-o
acreditar que, por ser prazeroso, é algo benéfico ao organismo.
Através da
industrialização, concentram-se aqueles sabores e substâncias buscados por
nossa fisiologia. Assim, transformam-se inúmeros alimentos insípidos em saborosos.
A natureza nunca produziu um sanduíche, diz o renomado higienista Dr.
J.Tilden e, obviamente, por mais apetitosos que possamos tornar os alimentos,
devemos nos questionar: será essa uma prática saudável? Quantas pessoas, na
atualidade, pensam no valor nutricional de um alimento, antes de ingeri-lo ou
buscam alimentos pelo seu valor nutritivo? Eles são comercializados, promovidos
e consumidos por seu gosto, valor de excitação e estimulação, o que se obtém à
custa da adição de açúcares, sais refinados e de outros compostos químicos,
tóxicos e nocivos, que excitam e iludem o organismo, prejudicando-o.
Na natureza, todos os
animais se alimentam sem nenhum conhecimento nutricional, sendo guiados apenas
por seus instintos. Obtêm os alimentos para os quais foram preparadas sua
fisiologia, anatomia e biologia. Por exemplo: vacas comem grama e foram
naturalmente construídas para comerem grama, sendo capazes de comer e digerir a
mesma, pois possuem quatro estômagos. Obviamente, uma capacidade exclusiva dos
animais herbívoros. Caso os seres humanos tentassem a mesma coisa, não
conseguiriam nem ao menos calorias o suficiente para manterem-se, pois possuem
uma capacidade digestiva finita. Ficariam empaturrados, muito antes de comerem
o suficiente. Por outro lado, não precisamos de uma aula de fisiologia ou
anatomia para compreendermos que vacas seriam incapazes de coletar uma refeição
de frutas, como um primata ou caçar e devorar outro animal, como um carnívoro.
Todos os animais selvagens
confiam apenas em seus instintos e estão presos às suas capacidades e ferramentas
de obtenção dos respectivos alimentos. Mesmo sem qualquer conhecimento
científico, enquadram-se nas leis da natureza e, por isso, vivenciam saúde
otimizada, não padecendo de nenhuma das doenças degenerativas a que se submete
o homem civilizado. Os animais comem o que seus instintos indicam ser o
certo e o que lhes agrada ao paladar, em seu estado in natura, sem
processamento algum do alimento. Não precisam enganar paladar e cérebro através
de temperos e condimentos.
O valor nutritivo de um
alimento está altamente ligado a seu sabor e ao paladar específico da espécie
que dele se alimenta. Podemos comprová-lo, quando vemos um leão salivando
diante da presa após a caça. A voracidade e deleite com que devora a carne
crua, ossos, cartilagens, órgãos, pé, pernas, braços e outras partes do animal
por ele abatido. Seres humanos não seriam capazes de degustar tal refeição,
pelo simples fato de o nosso organismo não haver sido criado para o consumo de
carne, nem mesmo termos a capacidade de sentir o gosto da gordura. Vacas, por
outro lado, salivam em um campo de grama, comendo-a com prazer. Seres humanos,
definitivamente, não apreciariam tal sabor. Como os primatas antropoides,
adoramos o gosto doce e a suculência das frutas e somos, nós e eles,
praticamente os únicos animais a sensibilizarmo-nos e a reconhecermos o doce.
É na natureza que definimos
a alimentação otimizada da raça humana, o que é nutritivo e, assim, apropriado
para a propagação da vida dos homens. Isso se dá, unicamente através de nossos
instintos, do gosto proporcionado pelo alimento silvestre. Logo, na natureza,
basicamente os únicos alimentos dos quais conseguiríamos apropriar-nos com
nossas faculdades físicas e consumir com prazer são, por óbvio, frutas,
vegetais, sementes e nozes.
Mas, infelizmente, na atualidade,
alterou-se por completo a matéria prima produzida pela natureza, de forma a
enganarem-se nossos instintos. A industrialização em massa barateou de tal
ordem o processamento de alimentos, tornando-o a norma ao invés da exceção.
Chegou-se ao extremo de nominar esse ou aquele alimento de saudável, quando,
na verdade, durante praticamente toda a vida na terra, prescindimos de tal
designação. Não havia categorias alienígenas como o junk-food.
Consumir frutas e vegetais
como a base de nossas calorias não é um experimento, mas a norma através da
história. Já a dieta hodierna é realmente uma experiência nova para a espécie
humana, um teste para a resistência do corpo humano. Refinando, cozinhando,
temperando, usando químicos, sal, açúcar etc, consegue-se comer alimentos que
seriam insípidos, repulsivos à ingestão. Sem esquecermos, é claro, que, com
essas práticas, sobrevivem os homens, mas alienados do ideal e potencial de
saúde que o corpo humano pode e deve vivenciar.
Por incrível que pareça,
levar uma dieta frugal é a coisa mais fácil de praticarmos, por tratar-se de
alimentos para os quais nosso organismo foi fisiologicamente adaptado a
consumir. E todos aqueles que já tentaram uma dieta frugívora tornam-se seus
entusiastas, afirmando amarem e preferirem seus novos hábitos alimentares. É
uma falácia acreditarmos que alimentação natural é desenxabida. Quem acredita
em tal mito desconhece os verdadeiros alimentos saudáveis em sua forma fresca,
madura e orgânica. Obviamente, um paladar pervertido por décadas de
condimentos, temperos, alimentos cozidos e industrializados, consumo de álcool,
tabaco, drogas farmacêuticas etc não é, e a continuar assim jamais será,
parâmetro aceitável de outras conclusões.
Apesar de pervertida a
natureza atual do homem, nossas preferências continuam vivas dentro de nós.
Comprovamos a assertiva pelo fato de as pessoas procurarem reproduzir a
suculência das frutas e dos vegetais em todas as receitas do dia a dia. Por
exemplo, comer arroz puro é um tanto quanto seco, então adicionam o caldo do
feijão ou molham o arroz com o caldo da carne, ou o dos vegetais
cozidos. Também mergulham biscoitos no leite, no café ou creme, tudo com
bastante açúcar. Como sempre, utilizam maionese ou manteiga em um sanduíche,
por ser o pão puro seco demais para nossa fisiologia. Não comem ou apreciam o
gosto do macarrão cozido por si só, por causa da sua falta de suculência, daí
espalham molhos de queijos derretidos ou à bolonhesa, na esperança ingênua de
torná-lo sumarento, como o são os alimentos naturais. E, como não bastasse,
adicionam a todos esses alimentos sal ou açúcar refinado, ou mesmo ambos.
Para uma vida longa,
saudável e próspera, o ideal é consumirmos o tipo certo de açúcar, ao
revés de tentar reproduzi-lo mediante artifícios despiciendos. Consumindo,
diariamente, grandes quantidades de frutas e vegetais, perpetuamos a simbiose e
o papel para os quais os seres humanos foram criados. Assim, ajudamos a nós
mesmos, aos animais e ao futuro da humanidade, contribuindo com a diminuição do
aquecimento global e a criação de um mundo mais verde, autossustentável,
SAUDÁVEL e FRUGAL!
Fotos retiradas do livro Crulinária Frugal - Receitas do Paraíso.